Não eram só as roupas que não lhe cabiam, o mundo também não. Dora Viváqua nasceu no dia 21 de fevereiro de 1917, em Cachoeiro do Itapemirim no Espírito Santo, décima quinta filha de um casal de imigrantes italianos. De lá foi para Belo Horizonte, depois Rio de Janeiro, depois Belo Horizonte novamente até ser internada aos 19 anos num sanatório, diagnosticada como esquizofrênica, por ter sido encontrada no quarto da irmã, na cama com o cunhado. O mundo foi para Dora o que ele é para todas as mulheres que se aventuram à autenticidade e desprezam as conveniências sociais. De personalidade mais que forte e marcante, Dora foge com um circo e começa ali seus ensaios como dançarina apresentando um espetáculo onde ela dançava semi-nua segurando uma cobra. Movida por amor, teve vários relacionamentos mais não aceitava oficializá-los. Certa vez desistiu de ser paraquedista em função do pedido de um namorado, mas todos sabiam que ela nunca seria "engaiolada". No circo se transforma em "Luz Del Fuego", nome de um batom argentino muito famoso na época e Dora deixa de se água para ser o que realmente lhe cabia: fogo. O fogo que lotava espetáculos e tirou da falência dezenas de circos Brasil afora. Lança um livro, publica o fato com o cunhado e outros relatos e o irmão, senador, compra metade da edição, mil exemplares e manda queimar. Dizia que preferia as cobras às mulheres. Enquanto o irmão ganhava projeção na política ela era presa por praticar nudismo e desacatar autoridades que certamente não gostavam de mulheres nuas. Fundou um partido político, o PNB - Partido Naturalista do Brasil, mas o irmão senador conseguiu que ele não fosse registrado. Seduziu o Ministro da Marinha e conseguiu a cessão da tão famosa Ilha do Sol, onde viveu vários anos e só era permitido entrar nu. Vários artista passaram por lá como Ava Gardner, Brigitte Bradot e Steve MacQueen. No dia 16 de julho de 67, em plena ditadura militar, dois irmãos assassinaram Luz e o caseiro da Ilha do Sol. Mesmo com a tragédia, até hoje Dora é exatamente o que ela mesmo descrevia: "Eu sou uma luz que não se apaga". Desde então é esta mais uma luz que tem iluminado a história das desbravadoras deste país, que hoje garantem direitos como ir às prais de biquini, direito ao voto ou ao divórcio. É fato que algumas se contentem em ter a vida iluminada por uma pequena vela acesa no altar das convenções, mas até mesmo essas, recebem as bênçãos de Luz Del Fuego.
Há milhares de anos a fama da esposa do famoso filósofo Sócrates é tão famosa quanto. Xantipa era conhecia por seu temperamento forte, feroz e por atacá-lo fisicamente. Os amigos não entendiam o amor que Sócrates mantinha por aquela mulher mesmo sob tanta animosidade, e ele afirmava que era justamente aquilo que o fazia ter contato com a humanidade. Nietzsche inventou uma tese que Xantipa foi fundamental para o desenvolvimento intelectual e sociológico de Sócrates porque o fez frequentar todos os lugares de conversação da época, menos sua casa. Talvez fosse por isso que Sócrates tenha dito a famosa frase: "De qualquer modo, case-se. Se você tiver uma boa mulher, será feliz. Se tiver uma mulher ruim, se tornará um filosofo." Confesso que quando li essa frase imaginei Sócrates um tanto quanto "reclamão", mas quando soube que Xantipa pode ter sido a mãe de seus três filhos, ai entendi que sua impulsividade também devia servir para outros propósitos que mantiveram o
Convivi com Luz Del Fuego ainda e somente na minha infancia, quando ela ia na ilha do Engenho, onde minha avó morava com meus tios. Lembro dela chegando, pelo ruido do motos de seu barco verde e branco, minha avós ja mandava meus tios providenciarem um "short" para ele se vestir( se na ilha do sol só se entrava nú, na ilha do Engenho só vestido.) e assim ela fazia toda vez que nos visitava. Meus tios consertavam o barco e a canoa dela e minha avó dava uma preás para a cobra comer, cobra essa que nunca saia de volta de seu corpo. Foi uma experiencia muito linda e eu guardo com muita saudade esse tempo.
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