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Lúcia Rocha, a mãe do cinema novo

Para os que classificam o cinema nacional em "antes e depois de Glauber Rocha", é fundamental não menosprezar  a importância que sua mãe, Lúcia Rocha, teve na vida e na arte do menino prodígio. Lúcia, não escondendo a falta do filho, fala sempre do orgulho, das peraltices e genialidades de Glauber, que entre umas e outras, odiava a escola porque considerava sua professora primária fraca e por isso quis e foi alfabetizado pela mãe. Ela conta que enquanto outras crianças de sua idade brincavam na rua ele ficava trancado em casa lendo e escrevendo. "Minha mãe, minha cabeça é um vulcão", ele dizia e ela entendia que escrevendo ele conseguia "explodir" todas as ideias. Lucia conta que alguns filmes foram planejados ainda na infância, como Barravento, que Glauber idealizou quando tinha apenas 7 anos. Por muitos anos Lucia Rocha bancou financeiramente as obras do filho. Ela diz que era rica e ficou pobre com o cinema. Costurava figurinos, cozinhava para atores. Hoje Lucia mantém o Templo Glauber, um centro cultural que fica na cidade do Rio de Janeiro dedicado ao cineasta e que tem um acervo de 100 mil peças. A sensibilidade da mãe era tanta, que ela diz ter começado a juntar objetos quando ele tinha 9 anos. Um roteiro de uma peça de teatro que Glauber encenou na escola foi a primeira aquisição para o grande acervo. Ela guarda até as anotações que ele amassava e jogava fora. O que talvez fosse desmerecido para Glauber no passado, hoje são relatos de uma genialidade docemente compreendida e acolhida pela mãe. Ontem, 23 de agosto, Lucia Rocha participou de uma sessão em homenagem a Glauber Rocha, no Senado. Hoje, está aqui minha mais sincera homenagem à mãe do cinema novo.  

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