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O ponto G das Anastasias casadas

Sei que não é  um assunto tão atual, mas precisei de tempo e muita pesquisa de campo para falar sobre a febre sexual do momento: o filme 50 tons de cinza. No início, do alto de uma arrogância machista, acreditei que aquele alarde todo não tinha a menor justificativa. Milhares e milhares de mulheres só falando deste livro, pareciam hipnotizadas, obcecadas pela leitura, amigas me pediam insistentemente para ler,  uma verdadeira histeria. Como na maioria das vezes, supus que seria mais um romance água com açúcar, nada diferente daqueles que gostava na adolescência e que, igual no vídeo game, eu já tinha passado dessa fase. Como na maioria das vezes, também, eu estava errada. Assisti ao filme, depois de conversar com muitas mulheres e homens e colher opiniões e, acreditem, o que pude concluir é que o lance do sexo e do sadomasoquismo é completamente secundário. Parece um raciocínio desconexo já que o apelo midiático está exatamente no fato dele gostar de dar uns tapas na Anastasia na hora do sexo, mas apesar de um espanto e até um desprezo inicial por parte de algumas mulheres que desconheciam esse lado do prazer a dois, é total e completamente secundário. Essa legião de mulheres enlouquecidas pelo Sr. Grey, na verdade, não se atraem pelo personagem porque ele "não faz amor, ele fode com força". Pelo menos não de cara. No primeiro livro do romance, o personagem é muito bem descrito, detalhadamente: um homem jovem, lindo, rico, pacote praticamente completo; mas é quando ele faz a coisa mais surpreendente que leva mulheres de todas as idades,  credos e ideologias à loucura. E sabe qual é essa cena? Quando ele manda um técnico ir à casa de Anastasia consertar um computador que ela comentou apenas UMA vez que estava com defeito. Minha gente, isso foi testosterona pura! Foi um tesão absoluto, orgasmo violento e acho que cadeiras de cinema mundo afora se incendiaram neste momento. Principalmente as cadeiras das casadas que lotaram as salas na estréia do filme. Prestem bem atenção: ela comentou UMA vez e foi apenas um comentário, não um pedido. Qual é o tesão da coisa? Ele se adiantou. Não esperou ela pedir milhões de vezes para que faça coisas pequenas e cotidianas que a desobriguem de ter mais uma responsabilidade das milhares que ela já tem e assim podendo deixá-la livre para ser amante e pensar e se dedicar apenas em dar pra ele até desgastar o couro daquele chicote. Ela se sentiu valorizada por ter sido ouvida mesmo que sendo apenas um comentário. É uma coisa realmente surpreendente para alguns homens. Isso acontece também na cena que ele compra um carro novo pra ela, diga-se de passagem, uma Ferrari, porque ele achou que o Fusca dela estava muito velho. Tudo bem que era uma Ferrari, mas a maioria dos homens não entende que para algumas mulheres não é a marca que importa, é o gesto. E eis aí o ponto G:o Gesto. Um homem tornando a vida prática de uma mulher descomplicada e menos cansativa é afrodisíaco bruto. Claro que tem aquelas horas que a gente precisa de sexo e passa por cima de tudo, claro, mas a maioria das vezes o software fala mais alto que o hardware. E o mais louco é ver aquelas que no começo abominavam os tapas e fetiches justificando o comportamento, tentando desesperadamente achar um trauma, alguma coisa que o absolva, afinal, é um homem merecedor de um álibi. E o que fica de mensagem? Nos dias de hoje, por mais que a sociedade esteja se encaretando cada vez mais, até os velhos ditados se reformulam. Lembra daquele que "os homens gostam é de mulher que é uma lady à mesa e uma puta na cama"? O Sr Grey acabou mostrando que em 2015 o ideal masculino para milhares de mulheres é "um Lord à mesa e um puto na cama". Um pequeno passo para as mulheres, mas um grande salto para a sexualidade. E o fato dele ser lindo, rico, inteligente? Mero detalhe! Quase a diferença imperceptível entre um Fusca e uma Ferrari. Detalhe! rs 

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