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A atriz que não queria ser idolatrada

Por estarmos tão distantes da era de ouro do cinema mudo, talvez seja incompreensível imaginar, nos tempos de hoje, uma atriz hollywoodiana que fosse avessa à exposição pública. Nos tempos das atrizes que ficam famosas por cenas de sexo espalhadas na internet, uma atriz como Greta Garbo seria massacrada e execrada pela mídia justamente por não produzir fatos que a expusessem além das telas de cinema e alcançassem milhares de visualizações que rendem milhões de dólares e movimentam um mercado. Greta Garbo, nascida em 1905 em Estocolmo, na Suécia, teve sua primeira participação em um filme no ano de 1922 e com isso conquistou sua bolsa de estudos para a escola de cênicas de Estocolmo. Em 1925, depois de uma atuação em um filme alemão, Garbo foi contratada pela MGM, a maior indústria cinematográfica dos EUA e se mudou para a Califórnia. Aconselhada a perder 9 quilos e produzida para se transformar na imagem da mulher fatal, Garbo se torna um sucesso inimaginável e uma das principais atrizes do cinema mudo e que também participou da transição para o cinema falado. Muito se fala da personalidade arredia e avessa a exposição, mas pouco se fala da Garbo que era mulher cultural e ideologicamente a frente de seu tempo. Durante a crise de 1929, Garbo propôs que seu salário na MGM fosse reduzido pela metade para ajudar a empresa que enfrentava uma enorme crise, como a maioria das empresas americanas. Isso, mesmo tendo um salário de US$ 900,00 por semana, contra US$ 10.000,00 de seus pares românticos na tela. Quando a situação econômica do país volta a se estabilizar, Greta se torna a primeira atriz a fazer greve por melhores salários. Depois de ficar meses sem atuar, a MGM atendeu seus pedidos e reformulou seus contratos aumentando seu salário e a transformando na atriz mais bem paga da era de outro do cinema. Garbo também foi uma das poucas atrizes a comparecer ao velório do diretor alemão Friedrich Wilhem Murnau, sabidamente homossexual e rejeitado por grande parte dos atores. Reclusa, o velório do diretor, em 1931, foi um dos únicos eventos em que foi vista fora de casa. Há quem diga que Greta escondeu durante anos sua relação com a escritora Mercedes de Acosta. Mercedes autorizou que suas cartas fossem expostas após 10 anos da morte das duas. Para quem foi à exposição esperando revelações picantes a decepção foi certa, Não havia nada mais que palavras amigáveis por parte de Garbo e sim, por parte de Mercedes,verdadeira adoração. Essa frieza de Garbo também levantou teses sobre sua assexualidade. Alguns acreditam que ela teve relações afetivas com homens e mulheres, mas quase nenhuma com envolvimento sexual. Tudo em tese porque ela manteve uma dedicação hercúlea à privacidade e durante toda a vida concedeu apenas 16 entrevistas. Greta Garbo morreu aos 84 anos, em 1990, na cidade de Nova York. Apesar de ter sido indicada 4 vezes ao Oscar de melhor atriz, nunca recebeu o prêmio. A frase mais divulgada e atribuída a ela é:"Quero ficar sozinha", o que a mídia da época usava para retratar sua insistência pela solidão. Em uma entrevista Garbo desmentiu a frase e disse: "Eu não disse "eu quero ficar sozinha". Eu apenas disse "Eu quero ser deixada em paz". Existe toda uma diferença. De suas célebres frases eu prefiro: "Há muitas coisas em seu coração que você nunca deve contar a ninguém. Seria baratear o seu íntimo sair espalhando-as por aí". Entre os principais filmes de Greta Garbo estão "Grade Hotel" (1932), "Rainha Christina" (1933), "O Véu Pintado" (1934), "Anna Karenina" (1935), "Camille" (1936) e "Ninotchka"(1939).

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