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A mulher que viveu a paixão com paixão

Uma das coisas mais marcantes que aprendi com esse blog é que é uma ingenuidade acreditar que podemos analisar pessoas. Ainda mais as pessoas admiráveis e notáveis. Elas podem, no máximo, serem descritas imperfeitamente já que sua grandeza real jamais será mensurável ou até mesmo plenamente compreensível. Louise Von Salomé é uma das personagens desta vida que mais admiro. Intelectual nascida em 1861, em São Petersburgo, na Rússia, sempre foi descrita por sua imensa paixão pela vida, inteligência, bom humor e poder de encantar e contagiar pessoas. Como muitas das mulheres notáveis, chocou a sociedade em sua época e recusou-se a viver de acordo com regras impostas pelos padrões morais vigentes. Um dos fatos que mais atrai a curiosidade para a história de Lou é o fato dela ter sido a grande paixão de Friedrich Nietzsche. Logo ele que considerava o amor uma fraqueza. Alguns relatos contam que ela foi pedida em casamento pelo filósofo e negou. Ainda relatam que antes de sua morte, a doença de Nietzsche pode ter sido agravada pela recusa de seu amor. Mas não foi apenas o filósofo que sucumbiu ao poder devastador de se fazer apaixonar de Lou Salomé. O também filósofo alemão e amigo de Nietzsche, Paul Rée; o psicanalista e discípulo de Freud, Vitor Tausk; o maestro e compositor alemão Richard Wagner e até mesmo Freud, que dizia que a discípula era como um "raio de sol", não poupavam elogios e declarações púbicas de amor e admiração por Lou. Certa vez Freud lhe escreveu dizendo que ela "tinha um olhar como se fosse Natal". Frequentadora das rodas dos mais célebres intelectuais de sua época, buscou este estilo de vida após contestar a disciplina militar na qual foi criada por ser filha de um general do Exército do Czar e ter passado por aulas durante vários anos com um pastor protestante, Foi frequentadora dos meios mais revolucionários e anti-burgueses de Berlim, Munique, Paris e Viena. Por sua rebeldia e espírito de liberdade diz-se que seu casamento com o professor universitário Friedrich Andreas não chegou a ser consumado, já que Lou viajava constantemente e não abria mão do convívio intelectual com seus amigos e mentores. Também se fala que o casamento só aconteceu porquê Andreas ameaçou suicidar-se caso ela não aceitasse seu pedido. Em 1897 conheceu e se apaixonou pelo poeta Rainer Maria Rilke, quatorze anos mais novo. Foi ela quem ensinou russo a Rilke para que ele pudesse ler as obras de Dostoievski e Tolstói no idioma original. Dessa relação produziu seu primeiro ensaio sobre o erotismo. A paixão que ela buscava e transmitia atingia tão profundamente as pessoas que conviviam com Lou que chegaram a escrever que: "Quando Lou se interessa apaixonadamente por um homem, nove meses depois este homem dá à luz um livro. Um interesse pelo outro que o leva a crescer e produzir, mesmo quando esse crescimento e essa produção implicam o sofrimento." Louise Salomé morreu aos 76 anos, na Alemanha. Entre suas obras estão 14 publicações em vida e 4 póstumas. Algumas delas são: Friedrich Nietzsche em sua obra (1894), Rainer Maria Rilke (1928) e Carta aberta a Freus (1931).

"Ouse, ouse...ouse tudo! Não tenha necessidade de nada! Não tente adequar sua vida a modelos, nem queira você mesmo ser um modelo para ninguém. Acredite: a vida lhe dará poucos presentes. Se você quer uma vida, aprenda... a roubá-la! Ouse, ouse tudo! Seja na vida o que você é, aconteça o que acontecer. Não defenda nenhum princípio, mas algo de bem mais maravilhoso. Algo que está em nós e que queima como o fogo da vida."

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